Entrevista

Filipe Salgueiro deseja “Continuar a sorrir… Continuar com desafios!”

.O TEATRO tem esse poder de "tocar" o público, é uma CELEBRAÇÃO como um ato divino.

O nome e rosto de Filipe Salgueiro ficou conhecido quando em 2002 participou e ganhou o Concurso Cabelos Pantene Portugal.

Como ator ficou conhecido do grande público quando participou em 2005 na 2ª temporada da série juvenil da TVI, Morangos com Açúcar – série de verão, ao interpretar a personagem de “Luis Alvarenga”.

Como modelo desfilou na Paris Fashion Week, Barcelona Fashion Week, para a Diesel em Milão e em Portugal para Ana Salazar, José António Tenente, entre outros e foi a imagem de várias campanhas publicitárias de marcas nacionais e internacionais.

Atualmente com 42 anos, o ator levou a cena nos dias 24 e 25 de fevereiro p.p., em Almada, no Auditório Nobre Fernando Lopes Graça – Fórum Municipal Romeu Correia, a segunda temporada do espetáculo “Algodão Doce: o fim pode ser um bom começo” uma experiência teatral ímpar, baseada na premiada obra “Crimes Exemplares” e na vida do escritor Max Aub e que tem sido um grande êxito, recebido pelo grande público com grande entusiasmo.

Quisemos saber um pouco mais sobre o ator e convidámo-lo para um café e conversar um pouco.

1 – Sabemos que estes dois últimos anos foram muito complicados para ti. A pandemia e principalmente a morte da tua mãe, que sendo o filho extraordinário que foste, deixou-te um grande vazio. Como tens conseguido ultrapassar esse trauma?

Um dia de cada vez… A minha mãe era muito presente na minha vida e neste momento ficou um gigante vazio. Todos perdemos muito… O trabalho, os amigos, a familia, o carinho das pessoas ajudam a superar em parte, mas existe dias que sou só eu apenas comigo, preciso desse momento, pode ser umas horas, mas também podem ser dias. A Morte da minha Mãe trouxe uma nova visão da Vida para mim, que já existia, mas ficou mais clara para mim. Anteriormente era mais ansioso pelas coisas, continuo apaixonado e curioso por tudo, mas agora sou mais descontraído e cada vez mais dou importância a pequenos momentos que na sua magnitude são “gigantes” e realmente importantes. Não há nada mais fabuloso que ver o Mar e beber um copo de vinho com amigos por exemplo.

2 – Começaste em televisão na série Morangos com Açúcar, na TVI. Tens saudades dessa época? Tens boas recordações?

Na realidade até chegar aos “Morangos com Açucar” existe muitos momentos fabulosos, eu conhecei a fazer Teatro Amador muito cedo o que me levou a ser embaixador da juventude na EXPO 98 com a Coca-Cola, mas a minha primeira experiência profissional foi como modelo profissional. Ganhei os “Cabelos Pantene” em 2002 e por isso representei Portugal no concurso internacional, entre 51 países fiquei em 2 lugar o que me abriu as portas para trabalhar como modelo profissional agenciado pela Central Models em Portugal, viajei para vários países e fiz desfiles e campanhas por várias marcas pelo Mundo, tenho tantas histórias fantásticas desses tempos… Qualquer dia escrevo um livro! (risos) Foi então que me convidaram para fazer os “Morangos com Açucar” e por incrivel que pareça a personagem era para ser o “Dino” que mais tarde foi interpretada pelo meu falecido amigo Francisco Adam e foi então escrita uma nova personagem para mim com uma complexidade muito interessante o “Luis Alvarenga” que começa a sua história em Londres e que chegou a abrir o noticiário da noite devido á relevância da personagem e ao que representava. Depois seguiu-se tantos projetos maravilhosos em TV, Floribella, Mundo Meu, etc, etc… 

3 – Entraste na novela da SIC “Amor Maior” e tiveste uma participação especial na “Jogo Duplo” da TVI. A que se deve a tua ausência da televisão?

(risos) Não acredito que seja uma ausência forçada, mas talvez essa pergunta deva ser feita a quem escolhe os elencos, fico satisfeito que me considerem para os papéis principais e isso já me enche em parte de satisfação. Tenho a sorte de nestes anos ter podido fazer TV, Teatro, Cinema e Moda… Mais recentemente em TV gravei uma mini série para a RTP o ano passado que ainda vai estrear, em Teatro estou em tour com o meu espetáculo “ALGODÃO DOCE” que ainda agora iniciámos a 2 temporada esgotada completando apenas em ALMADA mais 1000 espetadores depois do sucesso da 1 temporada que passou por CASCAIS, LISBOA e ALMADA, continuo a trabalhar em Moda ainda este mês fiz o desfile do Tony Miranda, do Rafael Freitas, o Rossio Fashion Day e estou a trabalhar com algumas marcas a nivel do digital como Criador de Conteúdos. Mas não escondo e confesso que gostava de ter um novo desafio em TV. 

4 – Da tua experiência no cinema com os filmes “Emily”, realizado por Peter Webber e no “The Promise” ao lado de atores de renome como Christian Bale, entre outros, o que sentiste?

Foi uma grande aprendizagem, então trabalhar com o Christian Bale foi algo notável, o empenho, a dedicação, a humildade no rigor… Nunca mais me esqueço que ele bebia alcool sempre antes de entrar em plateau, bebia o suficiente para ficar um pouco zonzo pois a sua personagem estava constantemente embriagada e acho isso notável… Fingir não é representar… Interpretar uma personagem implica sentirmos as dores dessa personagem, não fingir que as temos, o limite disso depende da capacidade de cada ator em se envolver com a personagem em questão. Não existem pequenos ou grandes papéis, existem sim pequenos ou grandes atores. O que mais fascina é a transformação.

O que te trouxe essas experiências? O desejo de voltar a fazer cinema?

Sim poder testemunhar uma produção gigante foi um estimulo, mas não me interpretem mal, seja uma projeto internacional ou um projeto mais “home made” ambos têm o seu valor, o que me fascina é o poder e o desafio de me transformar noutra pessoa, eu tive o prazer mais recentemente de interpretar um dono de um bar de praia e surfista, um velho de 80 anos, um cigano, um escritor esquizofrénico, um jovem realizador, um arquiteto, um toxicodependente, um árabe, tantos e tão diferentes… Existe lá outra profissão mais fascinante!

5 – Estreaste segunda temporada do espetáculo “Algodão Doce: o fim pode ser um bom começo”. Quais são as tuas expetativas para esta temporada?

As melhores… A primeira temporada foi fascinante e nunca pensei que o público abraçasse este espetáculo desta forma… A estreia da 2 temporada foi icónica! É um espetáculo dificil, é um “campo de batalha” constante… (risos) É uma luta constante entre a luz e as trevas, entre o Riso e o Choro, entre o Doce e o Azedo, a Comédia e o Drama… O “ALGODÃO DOCE” trás ao espetador o terror de uma viagem esquizofrénica, uma viagem que passa por si próprio e pelos outros, levando o público a sentir-se culpado de rir da “desgraça alheia” é como um reflexo.

6 – Como surgiu o “Algodão Doce”?

O “ALGODÃO DOCE” nasce da minha paixão pela obra erúdita de MAX AUB “Crimes Exemplares” 1957 que ganhou um prémio em 1981 e que eu já havia interpretado no passado e que conta a história de centenas de crimes que todos os dias já nos passaram pela cabeça muitas vezes, mas não os cometemos, mas estas personagens sim… Com base nessa obra fizemos um laboratório intenso durante 2 anos em considerar os “crimes reais” de hoje em dia e utilizámos essas histórias reais para cruzar todos estes crimes num argumento. Falamos de doenças mentais e o que nos leva a cometer um crime, falamos de sensações e emoções primárias… Quase como se entrassemos no metro á hora de ponta e todas aquelas pessoas desconhecidas que lá encontramos nos contassem a sua história. É uma luta constante entre CRIADOR e CRIAÇÃO.

7 – O elenco é muito diferente do clássico. Tens atores que não tinham experiência na arte, que tinham vidas profissionais diferentes e até uma cantora lírica. Como se gerem emocionalmente como equipe?

Todos os 12 atores fizeram um laboratório extenso e núcleos intensivos de trabalho com 9 mentores de várias áreas do Teatro durante 2 anos, este projeto teve 9 diretores de atores e explorámos organicamente todas as cenas e variáveis, eu pretendia juntar atores diferentes, atores com carreira, com atores que sairam das faculdades e atores a começar, temos atores portugueses, brasileiros, africanos e até um venezuelano e oriundos de áreas profissionais também diferentes não apenas do Teatro, temos um atleta profissional, um padeiro, uma professora, uma empregada da limpeza, etc, penso que essa densidade multidisciplinar vem conferir ao “ALGODÃO DOCE” muita riqueza. Muita verdade. 

8 – Este espetáculo é deveras arrojado e ambicioso e pretende passar uma mensagem, de um problema que é infelizmente cada vez mais comum em Portugal e no mundo, a saúde mental. Achas que a vossa entrega durante todo o espetáculo, que é extraordinária, chega ao público?

Penso que sim, era um receio muito grande no inicio, mas pelo feedback do público, a opinião da critica, pelo regresso dos espetadores que trazem outros amigos tem respondido a essa questão. Estou muito feliz porque é um espetáculo que se assemelha a uma “montanha russa” e penso que o público sente esse fascinio. O TEATRO tem esse poder de “tocar” o público, é uma CELEBRAÇÃO como um ato divino. Uma sessão teatral nunca será igual à anterior, essa celebração é testemunhada apenas pelos presentes, de Humanos para Humanos, o palco é a “catedral” e os atores o “veículo de mensagem” e esse poder nunca poderá ser retido ao TEATRO. As pessoas no “ALGODÃO DOCE” ouvem-nos a respirar, a pisar o palco, a rir, a chorar, é muito real e é por isso que “despimos as entranhas” do TEATRO para que as pessoas vejam para lá das sombras que o palco tem, os atores nunca se escondem e estão sempre em palco… Eu passo 2 horas em palco (risos)… Como as sombras e os reflexos da Vida indivual de cada espetador… É muito orgânico e ao mesmo tempo frenético, cómico e humano, mas também bruto, cruel e real…

9 – E a seguir, o que se segue? O que nos reservas para o futuro? Novos projetos?

Continuar a sorrir… Continuar com desafios! Continuar com a 2 temporada do “ALGODÃO DOCE” e em breve pretendo estrear uma nova produção que se chama “BRUXAS” que fala do papel da Mulher no Mundo com um elenco maravilhoso de 7 mulheres fantásticas, inspirado no episódio da história de Bruxas de Salém que aconteceu nos Estados Unidos.

Fotos: Paula Alveno

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