Entrevista

Carole Purnelle: Quando a luz se torna linguagem

O Lumina Festival e a arte de iluminar ideias, lugares e emoções


Num tempo em que a luz é mais do que claridade — é arte, é memória, é encontro —nasce o Lumina – Festival da Luz, esta iniciativa artística multimédia propõe uma nova forma de viver o património: à noite, sob uma iluminação que revela o que o dia não mostra. Monumentos ganham nova vida, ruas tornam-se palcos, e o turismo cultural transforma-se numa experiência sensorial e emocional.

Carolle Purnelle fala-nos do Ilumina

O LUMINA Festival de Luz é um dos maiores eventos de arte luminosa em Portugal, transformando a vila de Cascais num espaço de encontro entre criatividade, tecnologia e comunidade.

Carole Purnelle, Ceo de OCUBO, a nossa convidada e um rosto criativo do Ilumina. Foto DR

Hoje, conversamos com Carole Purnelle, CEO do OCUBO e um dos rostos por trás deste projeto que ilumina não só ruas e monumentos, mas também ideias e possibilidades. Vamos descobrir como a luz pode unir territórios, valorizar histórias e inspirar futuros.

Origem e Visão


Como surgiu a ideia do Lumina – Festival da Luz?

Narrativas visuais vividas por adultos e crianças. Em www.ocubo.com. Foto DR

A ideia do LUMINA surgiu a partir de uma reflexão: como tornar a arte acessível a todos, fora dos museus e galerias tradicionais? A resposta passou por usar a luz como linguagem universal, projetando-a sobre ruas, praças e monumentos históricos, de forma a integrá-los em narrativas visuais que pudessem ser vividas por todos, desde residentes a turistas, adultos e crianças.

O património local se transforma em tela viva, imagem e singularidade. Em www.ocubo.com. Foto DR

A primeira edição teve lugar em Cascais, escolhida pela sua forte identidade cultural, pela beleza arquitetónica e pela ligação ao mar. Desde logo, o festival mostrou a sua singularidade, assumindo-se como um evento gratuito, inclusivo e noturno, em que o património local se transforma em tela viva para artistas nacionais e internacionais.

Artistas de outros países na sua dimensão global. Em www.ocubo.com. Foto DR

Com o tempo, o LUMINA consolidou-se como uma referência cultural em Portugal e no mundo, recebendo distinções como o Prémio de Melhor Evento Cultural (2013) e o selo europeu EFFE – Festivais Notáveis (2015-2016, 2017-2018, 2024-2025). Desde a sua fundação, o LUMINA já contou com mais de 1,5 milhões de visitantes, 136 instalações de luz e a participação de 122 artistas de 26 países, mostrando a sua dimensão global e capacidade de atrair públicos diversificados.

Qual é a principal missão do projeto e o que o torna único?

A origem do LUMINA está intimamente ligada ao propósito do ateliê OCUBO de democratizar a arte, valorizar o património e promover a partilha cultural, através da luz, da arte e da tecnologia. Ao longo das suas oito edições, o festival transformou-se num símbolo de Cascais e numa plataforma internacional de encontro entre artistas, comunidades e visitantes.

Valorização do património local. Em www.ocubo.com. Foto DR

Diria que a missão do LUMINA é celebrar a luz como forma de expressão artística capaz de aproximar culturas, emocionar o público e valorizar o património local, e que o que o torna único é a combinação entre arte, arquitetura, natureza e tecnologia, transformando ruas, praças e monumentos em telas vivas de sonhos, abertas a todas as idades.

Impacto cultural e turistico

De que forma o projeto contribui para o desenvolvimento do turismo noturno na região?


O LUMINA – Festival da Luz afirma Cascais como uma referência no domínio do turismo cultural e noturno pelo seu grande impacto e pela capacidade de atrair milhares de visitantes nacionais e internacionais em cada edição.

A adesão do público com grande entusiasmo. Em www.ocubo.com. Foto DR

Ao longo da sua história, o festival já recebeu mais de 1,5 milhões de pessoas, transformando três noites de setembro num momento único de encontro entre arte, património e comunidade. Para além do impacto artístico, o festival desempenha também um papel relevante na dinamização da economia local.

A criatividade das flores e a luz. Em www.ocubo.com. Foto DR

Graças à sua projeção internacional e ao reconhecimento de entidades como o jornal The Guardian, que o destacou entre os 10 melhores festivais de luz da Europa, o LUMINA consolidou Cascais no mapa dos grandes festivais de luz do mundo, reforçando a sua identidade como vila criativa, inovadora e aberta ao diálogo entre culturas.

Que tipo de experiências culturais o visitante pode esperar ao seguir os roteiros iluminados?

Este ano o LUMINA regressa a Cascais com um tema muito especial, “Dreams & Stories: Uma Jornada Luminosa pelo Subconsciente”, que desafia os limites da imaginação. Através de mais de 20 obras, por entre esculturas de luz, instalações imersivas, video mapping e performances ao vivo, convidamos o público a mergulhar num universo onírico, onde realidade e imaginação se cruzam.

Uma verdadeira viagem sensorial. Em www.ocubo.com. Foto DR

Nesta nova edição, o festival transforma as ruas, praças e monumentos de Cascais em telas vivas, desafiando-nos a explorar a beleza invisível do subconsciente. Mais do que um espetáculo visual, esta edição do LUMINA propõe uma verdadeira viagem sensorial, uma experiência poética e participativa que liga o património local ao poder transformador da arte contemporânea.

Sustentabilidade e Inovação

Que tecnologias ou práticas sustentáveis estão a ser utilizadas na iluminação dos monumentos?

Detalhes contam histórias:. Em www.ocubo.com. Foto DR

Em termos operacionais, o LUMINA recorre, por exemplo, a tecnologias de iluminação LED de baixo consumo energético, mas as práticas sustentáveis transbordam para o próprio plano artístico: algumas obras transformam resíduos em arte, como os pássaros de plástico reciclado em Gazouillis ou as flores criadas a partir de garrafas recicladas em Meadow of Dreams,
promovendo a economia circular.

Como o projeto equilibra a valorização patrimonial com a preservação ambiental?

A luz que ilumina o espaço urbano de uma forma impactante. Em www.ocubo.com. Foto DR

A implementação do LUMINA respeita o espaço urbano e natural onde o festival decorre, usando a luz como recurso efémero e não invasivo. O festival exalta o património arquitetónico e paisagístico de uma forma altamente impactante, mas com uma intervenção mínima, ao mesmo tempo que promove uma consciência ecológica através de instalações que abordam questões ambientais, numa sinergia entre valorização, preservação e proteção ambiental.

Parcerias e Cooperação

Quais são os principais parceiros envolvidos?


O LUMINA conta com o apoio da Câmara Municipal de Cascais, de embaixadas (como a do México), de instituições culturais e de mais de 30 patrocinadores e parceiros nacionais e internacionais. A cooperação internacional reflete-se ainda na presença de artistas de 26 países, na realização de estreias mundiais e em colaborações criativas que cruzam fronteiras culturais.

Que papel desempenha a comunidade local na implementação e promoção do projeto?

A arte criativa. Em www.ocubo.com. Foto DR


A comunidade é parte ativa do festival, estando envolvida na sua conceptualização e, mais tarde, enquanto protagonista do diálogo artístico com as obras, com os monumentos. As crianças e os estudantes de Cascais participaram no processo criativo de algumas obras, artistas locais têm
espaço para expor os seus trabalhos, e os residentes tornam-se, de certa forma, embaixadores desta iniciativa e da vila que habitam. O envolvimento da população reforça a identidade coletiva do festival e é, sem dúvida, parte indissociável da essência do LUMINA.

Futuro e Expensão


Há planos para expandir o projeto a outras regiões ou monumentos?


Nesta fase, o LUMINA continua a ter Cascais como mote e epicentro, mas essa poderá ser uma possibilidade, no futuro, à semelhança do que já aconteceu com outras experiências artísticas multimédias desenvolvidas em locais icónicos, cujo carácter itinerante abre caminho à expansão para novos espaços e cidades, sempre preservando o ADN do festival: transformar património em arte viva, através da luz.

As pontes entre o real e o imaginário, entre gerações e entre culturas. Em www.ocubo.com. Foto DR

Que legado esperam deixar com esta iniciativa?

Agora na sua 8ª edição, a nossa ambição é que o LUMINA deixe um verdadeiro legado cultural, artístico e comunitário. Que mais do que um festival, seja um convite para sonhar acordado, despertando emoções e memórias duradouras, e um testemunho de que a arte pode ser democrática, sustentável e transformadora, criando pontes entre o real e o imaginário, entre gerações e entre culturas.

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